A beneficência

Há muitas maneiras de se fazer a caridade, que muitos de vós julgais ser somente a esmola, mas entre esmola e caridade há uma grande diferença. A esmola, meus amigos, é algumas vezes útil, pois dá alívio aos pobres, mas é quase sempre humilhante tanto para quem a dá quanto para quem a recebe. A caridade, ao contrário, une o benfeitor ao ajudado e, além disso, disfarça-se de todas as maneiras!

Pode-se ser caridoso até mesmo com os nossos familiares, com nossos amigos, sendo indulgentes uns para com os outros, perdoando as fraquezas, tendo cuidado para não ferir o amor-próprio de ninguém, e para vós, espíritas, em vossa maneira de agir para com aqueles que não pensam como vós; levando os menos esclarecidos a crer e isso sem ofendê-los, sem alterar sua maneira de pensar, mas levando-os alegremente a reuniões onde poderão nos ouvir e onde saberemos encontrar a brecha do coração por onde poderemos penetrar. Eis também uma das formas da caridade.

Escutai agora o que é a caridade para com os pobres, esses deserdados aqui da Terra, mas recompensados por Deus, e que, dependendo do que vós fizerdes por eles, saberão aceitar suas misérias sem queixumes. Vou vos esclarecer com um exemplo.
Observo, algumas vezes na semana, uma reunião de senhoras, de todas as idades, que, para nós, como sabeis, são todas irmãs. O que estão fazendo? Elas trabalham muito rápido. Os dedos são ágeis; vejo também como seus rostos estão radiantes e como seus corações vibram todos juntos! Mas qual é seu objetivo? É que elas vêem se aproximar o inverno, que será rude para as pobres famílias. As formigas não puderam guardar, durante o verão, o alimento necessário para o sustento, e a maior parte de seus pertences está empenhada. As pobres mães se preocupam e choram pensando nas suas criancinhas que, neste inverno, passarão frio e fome! Mas, paciência, minhas pobres mulheres! Deus inspirou a outras, mais afortunadas do que vós; elas estão reunidas e vos confeccionarão roupinhas, depois, num destes dias, quando a neve tiver coberto a terra e murmurardes dizendo: “Deus não é justo”, que esta é a expressão comum nos vossos períodos de sofrimento, então vereis aparecer um dos filhos dessas boas trabalhadoras, que se constituíram em operárias dos pobres. Era para vós que elas trabalhavam, e vossas lamentações se transformarão em bênçãos, porque, no coração dos infelizes, o amor aparece bem perto do ódio.

Como é preciso a todas essas trabalhadoras um estímulo, vejo as comunicações dos bons Espíritos lhes chegar de todas as partes. Os homens que fazem parte dessa sociedade trazem também sua ajuda, fazendo uma dessas leituras que tanto agradam. E nós, para recompensar o cuidado de todos e de cada um em particular, prometemos a essas trabalhadoras laboriosas uma boa clientela, que lhes pagará, à vista, em bênçãos, a única moeda que tem valor nos Céus, assegurando-lhes ainda, e sem temor de errar, que estas bênçãos jamais lhes faltarão.

Cáritas – Lyon, 1861

(Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec)