É muito diáfana a linha divisória entre a sanidade e o desequilíbrio mental.
Transita-se de um para outro lado com relativa facilidade, sem que haja, inicialmente, uma mudança expressiva no comportamento da criatura.
Ligeira excitação, alguma ocorrência depressiva, uma ansiedade, ou um momento de mágoa, a escassez de recursos financeiros, o impedimento social, a ausência de um trabalho digno entre muitos outros fatores, podem levar o homem a transferir-se para a outra faixa da saúde mental, alienando-se, temporariamente, e logo podendo retornar à posição regular, à de sanidade.
Problemas de ordem emocional e psicológica, mais costumeiramente conduzem a estados de distonia psíquica, não produzindo maiores danos, quando não se deixa que se enraízem ou que constituam causa de demorado trauma. Vivendo-se numa sociedade em que as neuroses e as psicoses campeiam desenfreadas, vitimando um número cada vez maior de homens indefesos, as balizas demarcatórias dos distúrbios mentais fazem-se mais amplas.
Há, no entanto, além dos fatores que predispõem à loucura e dentre os quais situamos o carma do Espírito, nos quais se demoram incontáveis criaturas em plena fronteira, a obsessão espiritual, que as impulsiona a darem o passo adiante, arrojando-as no desfiladeiro da alienação de largo porte e de difícil recuperação…
São os sexólatras, os violentos, os exagerados, os dependentes de viciações de qualquer natureza, os pessimistas, os invejosos, os amargurados, os sus- peitosos incondicionais, os ciumentos, os obsidiados, que mais facilmente transpõem os limites da saúde mental…
Não nos desejamos referir àqueles que são portadores de patogenias mais imperiosas em razão de enfermidades graves, da hereditariedade, de distúrbios glandulares e orgânicos, de traumas cranianos e de seqüelas de inúmeras doenças outras…
Queremos deter-nos nas psicopatogêneses espirituais, seja as de natureza emocional, pelas aptidões e impulsos que procedem das reencarnações transatas, de que os enfermos não se liberam, seja pelo impositivo das obsessões infelizes, produzidas por encarnados ou por Espíritos que já se despiram da indumentária carnal, permanecendo, no entanto, nos propósitos inferiores a que se aferram…
A obsessão é uma fronteira perigosa para a loucura irreversível.
Sutil e transparente, a princípio, agrava-se em razão da tendência negativa com que a agasalha o infrator dos Soberanos Códigos da Vida. Dando gênese a enfermidades várias, inicialmente imaginárias, que recebe por via telepática, pode transformar-se em males orgânicos de conseqüências insuspeitadas, ao talante do agente perseguidor que induz a vítima que o hospeda, a situações lamentáveis.
Comportamentos que se modificam, assumindo posições e atitudes estranhas, mórbidas, exprimem constrição de mentes obsessoras sobre aqueles que se lhes submetem, mergulhando em fosso de sombras e de penoso trânsito…
Há muito mais obsessão, grassando na Terra, do que se imagina e se crê. Mundo este que é de intercâmbio mental, vivo e pulsante, cada ser sintoniza com outro equivalente, prevalecendo, por enquanto, os teores mais pesados de vibrações negativas, que perturbam gravemente a economia psíquica, social e moral dos homens que nele habitam.
Não obstante, a vigilância do amor de Cristo Jesus atua positiva, laborando com eficiência, a fim de que se modifiquem os dolorosos quadros da atualidade, dando surgimento a uma fase nova de saúde e paz.
Nesse contexto, o Espiritismo – que é o mais eficaz e fácil tratado de Higiene Mental – desempenha um relevante papel, qual seja o de prevenir o homem dos males que ele gera para si mesmo e lhe cumpre evitar, como facultando-lhe os recursos para superar a problemática obsessiva, ao mesmo tempo apoiando e enriquecendo os nobres profissionais e missionários da Psicologia, da Psiquiatria, da Psicanálise…
Neste livro procuramos examinar algumas técnicas obsessivas de Entidades perversas, que ainda se comprazem no mal, estimulando os sentimentos e paixões inferiores, tanto quanto alguns outros métodos e terapias desobsessivas ministrados pelos Mentores Espirituais e demais abnegados prepostos de Jesus nesta batalha do bem contra o mal, da luz contra a treva.
Desfilam, nas páginas que se irão ler, vidas e criaturas que se encontravam nas fronteiras da loucura e que foram amparadas, reconduzidas ao equilíbrio, quanto outras que se vitimaram, oferecendo-nos preciosas lições que devem ser incorporadas ao cotidiano de cada um de nós.
Sobretudo, destacamos o esforço e a dedicação dos Mensageiros do bem e da paz, na faina infatigável de ajudar, ensinando pelo exemplo a lição da fé viva e da caridade plena…
Guardando a esperança de que a sua leitura possa beneficiar alguém, agradecemos ao Senhor de todos nós pela Sua caridade para conosco, tanto quanto aos Espíritos Amigos que nos facultaram o ensejo de estar ao seu lado, nos momentos em que se dedicaram ao socorro e à misericórdia espiritual, movimentando-se através das fronteiras dos dois mundos de vibrações, para amainar a loucura que toma conta de muitos homens.
Salvador, 24 de fevereiro (Quarta-feira de Cinzas) de 1982.
Manoel Philomeno de Miranda
(Introdução do livro “Nas Fronteiras da Loucura”, psicografado por Divaldo P. Franco).